voluntariado e acidente na república tcheca
Depois de tudo que me aconteceu na Itália, finalmente eu peguei um voo para o meu próximo destino, esperando deixar para trás aquela má sorte que eu vivi (será?).
Cheguei na capital da República Tcheca, Praga, pouco depois do almoço em um voo super tranquilo. Da saída do aeroporto, eu peguei um ônibus que me levou até a estação do metrô e como ambos os modais eram da mesma empresa, não foi necessário pagar duas passagens (de cabeça agora não lembro do valor da passagem, mas acho que custou uns R$15/20 reais). Cheguei no centro de Pragra umas 16h, mas como tinha pessoas me esperando, não me alonguei e fui até a estação de trem. O meu destino ficava a +- 30km dali, ainda na capital, mas em uma área mais afastada.
Como eu falei na última história, quando eu planejei minha viagem para Europa, a ideia era fazer voluntariados e couchsurfing o máximo possível para economizar na hospedagem e eu encontrei um voluntariado em Praga. Era uma éspecie de hotel-camping que era basicamente frenquentado por locais que não falavam inglês, alguns se hospedavam em quartos ou cabines, outros alugavam o espaço para acampar e uns estavam de passagem fazendo ciclismo ou trilha e paravam para comer ou beber cerveja (e como bebem!). E falando nisso, o clima em Praga estava totalmente diferente do que eu havia passado na Grécia e na Itália, na verdade estava frio, com a temperatura chegando abaixado de 20º.
Para falar a verdade, não tinha muito o que fazer no voluntariado, o movimento estava fraco porque muitas pessoas estavam viajando de férias e o host tinha alguns problemas para manejar o serviço (além de mim, tinha outra voluntariada, o que foi bom para ter uma companhia para algumas atividades). Meu trabalho, basicamente, consistia em fritar batata, isso mesmo, eu pegava o soco de batata frita congelada, pesava a porção e colocava na fritadeira; fiz outras coisas também, mas isso foi o que mais fiz. O host cozinhava algumas vezes para nós, mas comíamos basicamente o que era servido no restaurante: frango empanado ou queijo empanado, ás vezes tinha arroz, frango assado com batatas, tinhamos cerveja a vontade (embora bebi poucas vezes) e eu tinha um quarto exclusivamente para mim.
Eu planejava fazer o voluntariado por 20 dias, esse era o combinado, mas algumas coisas me fizeram mudar de idéia, vamos lá: o host era uma pessoa bem legal e amigável, porém, quanto ao serviço, algumas atitudes não foram muito legais, já não tinha muita coisa para fazer, quando ele inventava algo, explicava para gente e não gostava, pegava ele mesmo para fazer porque era mais rápido e melhor (uma vez, antes de eu sequer fazer algo do restaurante, eu e a outra voluntaria chegamos de uma trilha e o restaurante estava bombando, o host tinha saído e a funcionária dele estava tendo que se livrar nos 30, depois de horas ele chegou e tomou a liderança como se nada tivesse acontecido e ficou fazendo comentários do nosso serviço mesmo que naquele dia tenhamos pego para ajudar sem instruções nenhuma e a funcionária dele não falava inglês muito bem). Esse foi o primeiro ponto, o segundo era o pouco serviço, eu não via necessidade de ficar tanto tempo sendo que não tinha muita coisa para fazer. O terceiro e o que foi o estopim de tudo: eu e a Melody (a outra voluntaria) decidimos ir de bicicleta a um mercadinho vietnamita que ela conheceu uma vez, o lugar era meio distante, desde do começo, ela estava em um ritmo bem mais acelerado que eu e ela não tinha certeza do caminho, pois bem, subimos uma ladeira e ela percebeu que aquele não era o caminho errado e voltamos, só que na descida, ela estava muito rápida e desapareceu da minha vista e meu celular começou a escorregar do bolso, numa tentativa de fechar esse bolso, apertei o freio da bicicleta (afinal era uma descida) e simplesmente capotei. Sim, capotei! Sofri um acidente horrível, machuquei terrívelmente minhas mãos e minha boca que ficou torta com inchaço e ainda quebrei um pedaço do meu dente que ficou mole por dias (foi péssimo para comer), fiquei dias no gelo e no medo do meu dente cair (ainda bem que não caiu). Minha má sorte na Europa não tinha acabado na Itália! Decidi não só encerrar meu voluntáriado nos dias seguinte, como encurtar minha jornada na Europa, nada estava mais fazendo sentido, eu ainda ia cumprir alguns países, mas tive que cortar vários outroas para encurtar a viagem e retornar ao Vietnã (a ideia inicial era talvez voltar ao Brasil, mas principalmente pela questão financeira, decidi retornar ao Vietnã após a Europa).
Tirando essa parte do voluntáriado, eu tirei um dia que estava de volta e visitei o centro de Prague e foi maravilhoso! Que cidade bonita, eu amo quando a cidade mantém seus aspectos históricos e Praga faz isso muito bem, caminhei horrores na cidade (isso foi antes do acidente). Fui da estação central até o castelo de Pragua (obviamente não entrei, mas mesmo visitando a parte externa é surpreendente, uma estética meio gótica). A praça principal também tem uma igreja linda e a cidade também tem um bairro judeu que remonta o período medieval, então tem muita coisa interessante para ver. Tem uns prédios coloridos também com um arquitetura super diferente (vocês vão ver nas fotos) que achei super interessante. Apesar do acidente, eu adorei Praga e prefiro manter as boas lembranças. O centro, a caminhada no bosque, o "ahoy" que as crianças falam para cumprimentar, os castelos, os aspectos históricos, enfim, quem tiver oportunidade, visite Praga, além de ser mais barata que várias cidades na Europa, super vale a pena, muito mais interessantes que muitas dessas cidades.
Falando em história, vamos em alguns pontos interessantes: vocês provalvemente já ouviram falar da Checoslováquia, esse foi um estado formado após a Primeira Guerra Mundial pela união dos povos tchecos e eslovacos (A Eslováquia fica exatamente ao lado direito da Rep. Tcheca atualmente). Apesar da República Checoslováquia ter sido formado por esses dois povos, existia uma grande população de alemães (minoria étnica) na região de Sudetas, isso abriu uma brecha para que a Alemanha Nazista anexasse essa região de minoria por via do Acordo de Munique no ano de 1938, o que levou a dissolução da Checoslováquia, bem como a seperação da Eslováquia. A ocupação do estado checo ocorreu até 1939 e com o fim da Segunda Guerra e a Alemanha derrotada, a Checoslováquia caiu na esfera de influência soviética. Em 1968 iniciou um evento que ficou conhecido como "Primavera de Praga": uma tentativa de ruptura no âmbito político com a URSS, tal tentativa não agradou os soviéticos que iniciaram uma ocupação em massa sem resistência por parte dos tchecos (confirmada pelo meu host - não sei se foi por conta da libertação na Segunda Guerra) que durou até 1990.
Já em novembro de 1989, a Checoslováquia voltou a ser uma democracia liberal através da pacífica "Revolução de Veludo". No entanto, as aspirações nacionais eslovacas foram reforçadas e, em 1 de janeiro de 1993, o país pacificamente dividiu-se nas independentes Chéquia e Eslováquia.
Por fim, noto que no anos de 2007 foi criado o Instituto para o Estudo dos Regimes Totalitários com o objetivo de investigar e revelar ao público os fatos históricos sobre os regimes nazista e comunista implantados no país (inclusive tem um museu do comunismo bem no centro de Praga). E, em 3 de junho do ano seguinte, foi firmada a Declaração de Praga sobre Consciência Europeia e Comunismo que equipara os crimes contra a humanidade cometidos pelo nazifascismo e pelo marxismo-leninismo.
Enfim, apesar do acidente, eu tenho boas memórias da minha experiência na Rep. Tcheca, mas por conta de tudo que vinha me acontecendo, decidi finalizar meu voluntariado e seguir viagem para finalizar minha jornada e ainda em Praga descobri que minha má sorte não estava terminada.
Comprei uma passagem online onde eu pegaria um trem até uma cidade a extremo leste do país e de lá pegaria um ônibus (já tudo incluso, o trem e ônibus era da esma empresa) que me levaria até Cravóvia, na Polônia. Mas como eu estava sem sorte na Europa, já quando entrei no trem tive um problema com meu assento que estava sendo reclamado por outra pessoa e sim, nós dois tinhamos o mesmo número de assento, como eu cheguei primeiro, permaneci sentado, até que veio o supervisor e pediu para ver meu ticket, promanete mostrei, o ticket era para o dia anterior, eu comprei para o dia errado e não tinha percebido, ele pediu para eu sentar em outro assento e até que veio uma outra pessoa para me cobrar novamente o ticket daquela viagem que eu estava fazendo (sabe quando a gente compra uma passagem de ônibus rodoviário no Brasil e não viajamos no dia, mas ela tem um período que podemos usar para outra passagem? Pois é, isso não funciona lá e quiseram me cobrar outro ticket), para minha sorte, acho, eu não tinha dinheiro vivo, só poderia pagar por cartão (eu tinha euro, mas não aceitavam), e a máquina do cartão não funcionou (eu acredito que por conta do wi-ifi que não estava funcionando nas cabines), o rapaz veio várias vezes até mim para tentar cobrar o pagamento e não rolou, chegou na minha estação e eu voltei. O problema agora era pegar o ônibus, esse, definitivamente, eu precisaria pagar novamente, fui até o guichê da companhia, mas o valor da passagem era muito acima do que eu tinha pago, olhei online os mais baratos eram mais a noite, passei horas na cidade, fui no shopping, comi no kfc e foi até o terminal do ônibus. Tinha chegado na cidade as 13h e peguei o ônibus para Cravóvia as depois das 19h. Tentei relevar a situação, que já estava saindo do controle, afinal, eu ainda estava viajando e conhecendo lugares novos, culturas novas, novas pessoas. E como eu disse da última vez, eu não me arrependo. Dinheiro a gente recupera e tudo na vida é uma experiência.
No fim do dia, cheguei em Cravóvia, capital cultura da Polônia, mas essa história fica para a próxima.
















